A formação de um casal se caracteriza pela criação de novos padrões de relacionamentos onde os dois passarão a ter a sua própria identidade, diante das relações de suas famílias de origem , do grupo de trabalho, dos amigos ou de outros grupos sociais. São duas pessoas com o desejo de ter uma vida em comum e que, ao inaugurar essa nova fase da vida , precisam aprender a enfrentar juntos os conflitos que poderão surgir, a superar as diferenças, sabendo que, se perdem individualmente ( eu ), ganham na construção de um projeto de amor no qual passaram a investir. ( nós ).
Dialogar é fundamental até para estabelecer limites que harmonizem as expectativas individuais em relação a cada um , em relação as suas famílias de origem, ao grupo do trabalho etc. Esses limites vão sendo descobertos e redefinidos num contínuo processo de aprendizagem na vida a dois..
A descoberta de um pelo outro estabelece entre os dois um pacto de amor, fazendo com que os elementos de colaboração que envolve o funcionamento da família não sejam um peso para nenhum dos dois. A sensibilidade de perceber a dificuldade do outro e estar pronto a ceder; a distribuição das tarefas, de quem lava a louça, quem pega as crianças na escola... e muitas vezes perceber o absurdo de um desentendimento sem fundamento e dar boas gargalhadas juntos depois.
O modo de cada um pensar, agir, sentir, compõe generosamente a construção do " nós ", que é valorizada porque se distingue, De fato, a beleza da relação conjugal estar em " sermos diferentes, mas sermos um" em construir uma comunidade e não uma simples convivência. Não se trata de complementariedade, mas de algo muito maior: a reciprocidade.
Muitos afirmam ter perdido a própria liberdade. Não é uma perda, mas um encontro com a liberdade do outro, portanto um ganho. O agir independente passa a ser um agir com coparticipação. Logicamente sem perder a própria autonomia. É - ou pelo menos deveria ser - crescimento mútuo, fruto de um relacionamento de amor que possibilita a expansão da vida a dois, conduzindo a verdadeira liberdade. " Não são duas metades, que se unem , mais dois inteiro que se somam" ,
Com o passar dos anos nossa reciprocidade se torna mais complexa. O fato de cedermos não significa que estamos perdendo alguma coisa; o fato de às vezes dependermos um do outro não quer dizer que somos fracos; quem toma a iniciativa não é um detentor da verdade. Quando se parte do princípio de que um dos dois está com a verdade, corre-se o risco de anular o outro, com frases do tipo. " Eu estou certo e você está errada." A batida dos nossos tambores individuais se torna mais alta. Eu fico surdo com a batida dela e a provocação se estabelece.
A flexibilidade entre o casal é necessária, pois, caso contrário, fragiliza a relação, com prejuízo para o crescimento de ambos.
Estamos em constante movimento, recebemos e doamos respostas à sociedade, nos adaptamos às exigências do desenvolvimento, mas muitas vezes não conseguimos responder as demandas de muitas e rápidas transformações. Vivemos num processo contínuo de criar e recriar a harmonia, para podermos manter aceso o amor que nutre a família . É um amor que sabe esperar, compreender, que perdoa e pede perdão, feito de gratuidade, fruto de uma escolha consciente.
Para o médico e escritor Raimondo Scotto " a meta é certamente muito alta (...) pode parecer quase inatingível. Mas se a montanha é alta, nem por isso devemos abaixar seu topo. Existe um caminho a ser percorrido que demanda tempo, paciência e capacidade de recomeçar, tendo sempre presente que o amor é uma arte, que se aprende e se aperfeiçoa somente a m a n d o na concretude da vida.
Fonte revista cidade nova ( abril 2013).
Selma Costa)
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